A cozinha Mineira

By Rodolpho Leonardo  10 mar, 2009   Postado em História

“Oh! Minas Gerais… Quem te conhece não esquece jamais, oh! Minas Gerais…” José Duduca Morais

Bandeira-minasNascido em São Paulo, SP, cheguei às terras sul mineiras com menos de um ano de vida. Minha família é mineira, da região norte do estado e como não podia ser diferente, eu me apaixonei pela gastronomia de Minas. Cresci comendo broa de milho, bolos, café com leite e pão com manteiga de manhã, nos finais de semana tinha, franguinho com quiabo (que minha mãe fazia a cada três dias), frango ao molho pardo, lombinho de panela… hum… e quem conhece a minha mãe, Dona Irene, sabe que ela faz o melhor feijão tropeiro do mundo.  Mas vou mesmo é falar um pouco desta cozinha fantástica, cheio de misturas e influências, de altos e baixos e de referência nacional.

Minas Gerais é um grande estado, o quarto maior do país em extensão territorial (maior que a França). Historicamente é um estado muito importante para a nação, pois além de seus ouros e minérios, saíram de lá muitas figuras importantes de história e da política Nacional. Quem nunca ouviu falar em Tiradentes, Juscelino Kubistchek, Tancredo Neves. O estado possui também grandes personalidades do meio televisivo, futebolístico, grandes escritores, músicos entre outros. E é este espírito de grandiosidade que também passa para a gastronomia. Cada uma de suas regiões e microrregiões, 10 no total, são responsáveis por cozinhas diferentes, identidades diferentes e até mesmo sotaque diferente uai.

Minas, em meados do séc. XVIII era o centro econômico da colônia brasileira, que de colônia mesmo não tinha nada, éramos somente um lugar de exploração de riquezas naturais. Entretanto ainda não possuía uma identidade gastronômica própria, pois os garimpeiros e tropeiros que aqui residiam, somente o faziam por causa da exploração e, portando, como tempo é dinheiro a alimentação lá era rápida e funcional, para gerar energia para o trabalho braçal.  Existia a distância de suas minas até os portos e os tropeiros eram os encarregados de fazer este transporte. Portando ai sim começa a surgir a base da comida mineira atual. Eles utilizavam muitos produtos secos (durabilidade) e carnes de animais que pudessem ser conservadas (salgas ou “confitadas”), que pudessem acompanhar-los (especialmente aves) ou a própria caça e pesca.

frango com quiaboNão existiam plantações em Minas. Era tudo somente um grande campo de exploração, mas o estado estava crescendo e necessitavam de mais alimentos. Aprenderam então com os nativos indígenas a utilizar o milho, as batatas, as mandiocas e as folhas que ali se encontravam. Porém esta época áurea teve um final com a alta cobrança de impostos, que serviam de punição para o controle da exploração e acabou resultando na Inconfidência Mineira em 1789.

Praticamente a economia do estado passou a ser de subsistência, surgiram então às grandes fazendas que se renderam as plantações de cana-de-açúcar, algodão, fumo a escravidão e futuramente ao café. Neste tempo começa então o período colonial do estado, onde a gastronomia recebe grande influência da cozinha portuguesa e africana, devido às cozinheiras escravas que trabalhavam na casa grande e aos proprietários provenientes de famílias européias.

A influência deste período é muito grande na cozinha mineira que tradicionalmente passava-se de mãe para filha e à fartura que conhecemos até hoje. Longo foi o período de aperfeiçoamento da culinária, dos quitutes e da saborosa comida mineira, pois há até pouco tempo atrás junto ao bordado, tricô e crochê, cozinhar eram as únicas ocupações das mulheres mineiras. Lembro como se fosse hoje de minha infância, quando pegava os cadernos de receitas de minha mãe e da minha irmã e ficava lendo, com água na boca e às vezes até arriscava algo, como bolos.

A cozinha em si torna-se simples, com pratos fartos, de sustança, porém simples, onde se podia cozinhar em uma clareira qualquer. A predominância dos fogões a lenha está relacionado a isto, pois cozinhar era preciso e em qualquer lugar (característica tropeira). A utilização em massa de animais pequenos, como aves e o porco, deve-se a facilidade da migração destes animais (outra característica tropeira) que podiam ser domesticados até certo ponto em áreas menores e montanhosas. O gado foi introduzido a cozinha mineira somente mais tarde, junto ao café, pois as serras serviam como barreira natural para este tipo de animal.

Então veio o costume do cafezinho várias vezes ao dia acompanhado dos quitutes preparados pelas mulheres.  As várias refeições mineiras, o café colonial, mesas com dezenas de produtos que nem eram consumidos, mas que por obrigação tinham de estarem presentes. E isto transformou a cozinha mineira em referência nacional, pois são poucos os estados e regiões brasileiras que apresentam esta diversidade de pratos e que comumente é utilizado no dia-a-dia. Claro que a moqueca capixaba é um prato típico do Espírito Santo, mas não é utilizada no dia-a-dia. E Minas tem disso, expressada em seu povo a hospitalidade de quem cozinha bem, possui bom produtos e acima de tudo que tem prazer em cozinhar. Assim é Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais, e bom apetite.

 

Com dificuldades nas palavras usadas neste post? Visite nossa página Glossário ou envie-nos uma pergunta a respeito.

6 respostas para “A cozinha Mineira”

  1. Mila Leonardo disse:

    Rodolpho, parabéns! Seu blog está cada dia mais instigador. Sucesso!

  2. andressa kasse disse:

    ola adorei o blog e as dicas sucesso!!!
    Gostaria da receita de frango ao molho pardo
    obrogada

  3. Carina disse:

    É maravilhoso alguém descrever Minas Gerais com tanta carinho. Parabéns, foram sábias palavras. Sucesso!!!

  4. Olá Marcos, tudo bem?
    Colocarei no site hoje ainda uma receita de frango ou galinha ao molho pardo. Espero que lhe agrade. Obrigado pela visita.

  5. marcos gonçalves disse:

    vc tem receita de galinha ao molho pardo?obrigado

  6. Navarro disse:

    Rod, você tem razão: D. Irene faz o melhor feijão tropeiro da região. Ah, que saudades do Moquém e dos almoços de domingo lá… Puxa…
    E você, tudo certo por ai? Te mandei um e-mail e nada. Manda notícias.
    Parabéns pelo blog, está sensacional!
    Abração.