É impressionante a pressão que surge quando você acaba de cursar o ensino médio (antigo ginasial) e você tem que escolher o que quer ser da vida. Nesta idade esta pergunta aparece a todo momento, a todo instante. “O que você vai fazer? O que vai prestar no vestibular?” E por ai vai. E geralmente as pessoas, não todas, mas a maioria dizem: “Vou prestar engenharia e a minha segunda opção é administração.” E outra diz: “ Eu vou prestar medicina e minha segunda opção é economia”.
O que será que está errado nisso tudo? Bom, não sou especialista em aconselhamento profissional, nem nada. Não formei em psicologia e nem é meu interesse entrar neste meio técnico, mas o por que isso tudo está errado? Às vezes, pessoas com pouca idade realmente não sabem ao certo o que escolher e se sentem pressionados a escolher uma profissão que lhes garantam uma vida promissora e de grande sucesso financeiro.
Eu mesmo, antes de virar cozinheiro, me aventurei por outras áreas. Um pouco sobre mim então é: ao graduar no ensino médio, comecei a trabalhar como operador de sistemas de informática e como gostava muito mesmo do assunto (pois já tinha feito cursos de informática, montagem de hardwares, informática industrial no Senai, entre outros), resolvi apostar na idéia – claro que meu melhor amigo também estava cursando ciência da computação e tudo então ficava mais fácil.
Fiz mais cursos, como o de administrador de rede em Linux e estava até pensando em fazer os de especialista da Microsoft. Então surgiu a oportunidade de ir cursar ciência da computação nos Estados Unidos e pra lá eu fui. Obviamente, tive que iniciar com um curso de inglês, pois não sabia nada de nada… He He He. Mas o tempo passou e a necessidade aumentou e fui trabalhar como cozinheiro de café da manhã na lanchonete da faculdade.
Não vou esconder que minha família é do ramo da hospitalidade e alimentação, mas eu nunca tinha pensado em ser cozinheiro como profissão, até porque a pressão para ser bem sucedido financeiramente era muito alta (e ainda é). Mas o destino me colocou diante das panelas e como por instinto animal eu cozinhava bem (modéstia a parte, eu cozinho bem mesmo e quem me conhece sabe o quanto eu sou modesto… ha ha ha).
Mas e a pressão por ser bem sucedido?
Bom, lá fora (tantos nos Estados Unidos como na Europa) a profissão é reconhecida há tempos e ser Chef é ser respeitado, ter bons salários e na maioria das vezes ter uma grande cultura. Lá, ser cozinheiro não é falta de opção e sim escolha. E isto me motivou a escolher uma profissão que, além de receber com dignidade, me dava prazer ao realizá-la. Os primeiros omeletes que eu fiz, claro que sem técnica nenhuma, mas que as pessoas comiam e diziam que estava muito bom, me levaram às alturas.
Pensei até em ser um Emeril Lagasse* da vida e percebi também que existiam possibilidades para crescimento na profissão. Podia continuar meu treinamento sem nenhuma especialização ou curso, somente aprendendo na raça e na coragem, tentativa e erro, o que levaria uns 10 anos ou mais, ou poderia fazer uma faculdade e pular uma etapa grande. Mas a parte de pegar experiência de vida e profissão, esta não tem atalho não.
Lá fui eu estudar então gastronomia. Voltei dos Estados Unidos e fiz o vestibular para o curso de Tecnologia em Gastronomia no Senac de Campos do Jordão. Era a quinta turma do curso, recém criado e aprovado com conceito A do MEC quando ainda estava cursando. Tive grandes professores e colegas de curso, que influenciaram nas minhas decisões futuras. Formado, fui trabalhar em navios cruzeiros, fazer consultorias, trabalhar em restaurantes, em hotéis nos Estados Unidos e trabalhar novamente em navio cruzeiros de luxo.
De volta ao Brasil, no início deste ano, observei que o “boom” da gastronomia, que aconteceu na década de 70 nos Estados Unidos, estava acontecendo aqui e agora, influenciado muito pela mídia e pelos recursos que temos hoje em dia. Porém, a realidade aqui é outra. Trabalhar como cozinheiro ainda é muito difícil, o salário é baixo e o reconhecimento quase zero. É bonito falar e tal, mas são poucos que conseguem realmente se manter da profissão, pois o curso é caro e o salário baixo demais. Mas estamos caminhando para o reconhecimento e o caminho certo e tudo marcha para um lado bom, enchendo nossos caminhos de experiências novas.
Mas para não perder o fio da conversa, o que acontece é que as vezes nossas escolhas nem sempre são exatamente corretas até que se tenha novas opções e que, na dúvida, sempre escute seu coração e jogue com suas habilidades, pois o sucesso depende mesmo da nossa garra e força de vontade e o reconhecimento e sucesso financeiro são conseqüência do trabalho duro e árduo que empregamos em nossas vidas. A sorte bate na porta também algumas vezes.
Qual a escolha certa então a se fazer? É a que você se sente bem no momento, aquela que você tem paixão e amor em fazer, pois nem sempre iremos trabalhar com quem gostamos, mas, pelo menos, iremos fazer o que amamos, o que no final alivia um pouco as contas. A Gastronomia, assim como a Engenharia, Medicina, Telecomunicações, Informática e outras profissões, é uma profissão tão importante como qualquer outra
Não pensem somente na parte financeira ou na pressão existente para fazer isso ou aquilo, veja com o que você se identifica mais e abrace a idéia. Existem milhares de profissões inovadoras e conservadoras. Faça testes, pois, neste caso, não existe a escolha totalmente errada se você se esforçar. Facilite para você mesmo e escolha algo que você goste.
*Emeril Lagasse é Chef e apresentador de shows de culinária na rede americana Food Network de televisão.
Credito da foto: Stock.Xchng
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